Empreendedores sergipanos mudam categoria de crédito e viram micro e pequenos empresários
Somente com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), foram aplicados mais de R$ 106,9 milhões com micro e pequenas empresas em Sergipe
O empresário Marcos de Jesus vendia água de coco nas feiras livres de Aracaju. Iniciou as vendas comerciais em 2009 e enfrentou uma série de dificuldades. "Saía de madrugada e chegava à noite em casa. Até hoje tenho hora para sair, mas não para voltar", afirma. Ele é um dos mais de 600 micro e pequenos empresários (MPE) que financiaram projetos de abertura, ampliação e capital de giro com crédito do Banco do Nordeste em Sergipe.
De janeiro a julho, o BNB aplicou mais de R$ 106,9 milhões no segmento de micro e pequenas empresas, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). No caso do empreendedor Marcos, ampliou a oferta de mercadorias no bairro Ponto Novo, zona sul da capital. Já não é apenas o ‘Marcos do coco’, mas passou a ser chamado de Marcos das frutas e verduras, da mercearia, e hoje, do minimercado. "No início não tinha apoio financeiro, então recorri ao microcrédito. Foi o pontapé para engrenar", conta.
Com o crescimento das vendas, ele conseguiu separar parte dos lucros e comprar a sonhada casa própria. Atualmente, o negócio funciona no mesmo terreno da residência e, com o novo investimento, o empreendedor adquiriu equipamentos para modernizar o local, instalou circuito interno de segurança e ampliou o espaço.
Do carrinho à lanchonete
A microempresária Noêmia, do município de Lagarto, é conhecida por ser uma mulher trabalhadora. Ao lado do marido Joseval, há 10 anos realizou o sonho de montar o próprio negócio com apoio do microcrédito urbano do Banco do Nordeste, o Crediamigo. Na época, ele trabalhava como taxista e ela morava na área rural em Lagarto. "Foi a Noêmia quem deu a ideia de comprar o carrinho e começar a vender pastel na cidade", lembra Joseval.
Por alguns anos, a divisão de tarefas era simples: Noêmia cuidava do recheio e outros dois funcionários fritavam os pastéis. Enquanto isso, o marido colocava o isopor na garupa da moto e fazia as entregas de graça. "Só para ter o prazer de vender", diz.
O casal deixou a informalidade e hoje faz parte da carteira de micro e pequenas empresas (MPE) do Banco do Nordeste. Com o boom dos aplicativos de delivery, a procura cresceu exponencialmente e eles podem atender tanto por entrega quanto no balcão. "Há três anos o negócio vai de vento em popa e já contamos com sete funcionários ao longo da semana, e nove aos sábados e domingos", afirma Joseval.
O último crédito foi destinado à compra de móveis, equipamentos e capital de giro associado. "Com esse investimento, a empresa poderá crescer, agilizar o processo produtivo e melhorar as instalações. Tudo isso sem comprometer o fluxo de caixa, para elevação das receitas e maior vantagem competitiva", explica a gerente de negócios da agência do Banco do Nordeste em Lagarto, Daniela Monteiro.
Ampliação em filiais
Edneide Silva Santos, ou simplesmente Neide, começou a trajetória como revendedora de perfumes importados, também com apoio do Crediamigo. A parceria rendeu rapidamente uma guinada no ramo comercial, que passou de perfumaria para venda de colchões. A empreendedora ingressou na carteira MPE e, aos poucos, inaugurou quatro lojas: três em Aracaju e uma em Nossa Senhora do Socorro. A última filial foi aberta em 2021.
Há 13 anos, a empresária começou a atuar no novo segmento. Na época, contava com dois funcionários. O sonho de expansão se tornou realidade, embora as últimas inaugurações tenham sido afetadas pela pandemia do novo coronavírus. "Em março do ano passado, abri uma loja no shopping, logo quando a pandemia chegou ao Brasil. Com 45 dias de funcionamento, tivemos que fechar as portas no primeiro decreto", lembra.
De 2020 para cá, Neide conta que passou pelo maior "aperto" desde que entrou no ramo dos colchões. Mas decidiu manter a estrutura com 13 funcionários, e buscou crédito para reabastecer o negócio. "Toda loja precisa de um tempo para gerar lucro. Eu tinha que tirar das outras três para colocar na quarta loja recém-aberta. Então quando tudo fechou, ficou difícil mantê-las. O empréstimo foi o que manteve a empresa viva".
O superintendente estadual do Banco do Nordeste, César Santana, fala sobre a importância do crédito para a expansão de projetos de empreendedores locais neste período. "Quando o empresário tem vontade de colocar o sonho para a frente, recorrer a um bom financiamento é um caminho duradouro. Vemos muitos casos de ótimas ideias empreendedoras que começam na área do microcrédito, com R$ 1 mil ou R$ 5 mil por mês, e crescem ao ponto de se tornarem excelentes micro e pequenas empresas, com vários funcionários. É uma reação em cadeia, com efeitos positivos para todos", explica o superintendente.