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Voltar Dica de Sustentabilidade na Agropecuária: Sistema sustentável de produção de hortaliças desenvolvido pela Epagri prova valor nas chuvas de novembro

(Extraído de artigo da Epagri. O Artigo completo pode ser acessado neste link)

O segredo do SPDH

O  Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) foi desenvolvido pela Epagri e outras instituições para transição da agricultura convencional para a agroecológica. A tecnologia permite reduzir o uso de agrotóxicos e adubos altamente solúveis, até eliminá-los das lavouras.

O sistema prevê uma série de práticas conservacionistas. A principal é a proteção permanente do solo com palhada, utilizando plantas de cobertura para formar biomassa. Além dessas plantas, conhecidas como adubos verdes, são mantidos na área de plantio os restos vegetais de culturas anteriores. O revolvimento do solo é restrito à linha de plantio e, nessa área, o olericultor deve praticar rotação de culturas.

Além de proteger o solo, as plantas de cobertura servem de alimento para macro e microrganismos, aumentam a concentração de matéria orgânica, reduzem o surgimento de plantas espontâneas e mantêm a umidade e a temperatura mais estáveis. “Com a rotação de várias espécies, há redução nos problemas fitossanitários, aumento na biodiversidade e na ciclagem de nutrientes, mantendo e melhorando a fertilidade do solo”, diz Marcelo Zanella, engenheiro-agrônomo da Epagri.

Reduzindo o uso de adubos e agrotóxicos, o agricultor gasta, em média, 50% menos para produzir hortaliças em SPDH. A melhoria na qualidade e na uniformidade das plantas permite reduzir em 35% as perdas na colheita. Além disso, as taxas de infiltração de água no solo chegam a ser três vezes maiores que no sistema convencional – a redução média no uso de água para irrigação é de 80%.

Proteção contra doenças

José Aloísio Guesser, conhecido como Dinho, tem entre 13 e 14 hectares de lavouras de alface em Antônio Carlos/SC, 80% deste total conduzido em plantio direto.

Há dois anos, Dinho optou pelo SPDH para combater fungos de solo, que contaminam a planta e são capazes de reduzir a qualidade das folhas, diminuir a produção e, em casos mais extremos, inviabilizar o cultivo. Como no Sistema de Plantio Direto a hortaliça não entra em contato direto com o solo, que está coberto por palha, as doenças fúngicas não se manifestam. “Realmente funciona, ajuda a combater o fungo do solo”, afirma o agricultor, acrescentando que, a partir deste verão, pretende estar com 100% de suas lavouras de alface utilizando o SPDH.

Abrahão Lealdino da Silveira é outro agricultor que conta com o SPDH para fugir das doenças que atacam as plantas. “No verão a gente tem muita chuva forte e ela ‘bate’ muito”, relata. Com bater, ele quer dizer que a gota de chuva faz a terra respingar na planta. “A doença está no solo e, respingando para a folha, entra bactéria, fungo, na folha da planta. Como no SPDH o solo está protegido por palhada, isso não acontece, essa eu acho que é a chave”, descreve o agricultor.

Ele planta oito hectares de alface, brócolis, salsinha, coentro, alho-poró, rúcula, espinafre e cebolinha. Em um hectare já utiliza o SPDH, mas vem se preparando para ampliar essa área, com o intuito de diminuir perdas na lavoura, que nas chuvas de novembro chegaram a 25 mil pés de alface, o equivalente a um mês de trabalho. Para justificar esse objetivo, ele relaciona outras vantagens da palhada: “evita um pouco de capinação, dá um conforto melhor para a planta e evita pulverizações”, enumera.

Lucro real

Para cultivar as plantas de cobertura, os agricultores precisam parar de produzir hortaliças por um tempo em uma parte do terreno. “As pessoas acham que estão perdendo com isso, mas na verdade não estão perdendo. Elas ainda não conseguiram entender que isso não é perda, isso é ganho, porque, nas próximas lavouras, tu vais ganhar em vários itens: vai diminuir adubação, diminuir agrotóxicos, diminuir mão de obra. Se tu souber fazer bem uma palhada, tu não passa mais enxada”, detalha Edésio Schmitt, agricultor de Antônio Carlos e pioneiro no SPDH, tendo adotado a prática há pelo menos 16 anos.

“Essas coisas que as pessoas não conseguem entender, mas tem que olhar o lucro real”, ensina Edésio. “Tu começas a produzir, vem doença, isso, aquilo, vem uma bactéria, acaba com tudo. Daqui a pouco, se tu for olhar, teu lucro é menor que se tu deixar três meses parado pra fazer uma planta de cobertura, que talvez daria para o resto do ano produzir em cima daquela palhada que ficou, sem contar que consegue aumentar a matéria orgânica dentro do terreno”, relata, com a sabedoria que só se adquire com a experiência prática.

Fonte: Epagri