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Voltar Etanol: uma janela que se abre

Mais uma vez, o etanol passa a ser percebido como uma grande alternativa de descarbonização para o mundo. A primeira onda ocorreu na primeira década deste século, entre 2005 e 2010, quando, além do Brasil, as duas maiores potências globais de então, os Estados Unidos e a Europa, lançaram ambiciosos programas de etanol com implementação prevista para os anos seguintes. Na época, o biocombustível produzido a partir de diversas matérias-primas, como a cana-de-açúcar no Brasil, o milho nos EUA e a beterraba na Europa, era visto como uma importante alternativa de descarbonização e redução da dependência do petróleo, fonte cara e poluente. A partir de então, os EUA foram gradativamente ampliando o nível de mistura do etanol à gasolina, até atingir 10% em todo o país, o que corresponde a quase o dobro do consumo atual brasileiro. A Europa, por sua vez, também adotou uma mistura crescente e em distintos níveis dependendo da estratégia de cada país.

Porém, o que se observou é que, em ambos os casos, os volumes ficaram aquém daqueles previstos originalmente. Nos EUA, poderosos lobbies associados principalmente à indústria do petróleo dificultaram o atingimento da mistura de até 15%, nível almejado pelo programa de biocombustíveis norte-americano na sua concepção. Já no caso europeu, houve, também, uma grande pressão por parte de grupos contrários ao programa, trazendo uma discussão, muitas vezes pouco fundamentada e turbinada por interesses protecionistas, que superestimou a competição dos biocombustíveis com alimentos e o impacto da sua produção para o desmatamento.

Some-se a esses lobbies a queda das cotações internacionais do petróleo entre 2015 e 2020, o que ajudou a desestimular o consumo do seu substituto renovável, além das promessas da meteórica substituição dos motores a combustão por veículos elétricos a bateria. Como resultado, o consumo de etanol permaneceu relativamente estável ao longo de toda a década passada, em volumes próximos a 100 bilhões de litros anuais.

No entanto, as peças do xadrez voltaram, recentemente, a se mexer e o cenário do jogo começou a mudar. De um lado, voltamos a conviver, nos anos recentes, com níveis de petróleo mais elevados, situação intensificada por uma guerra que nos evidencia a necessidade da diversificação de fontes e origens da energia consumida. De outro lado, a urgência climática também sinaliza que não há mais como adiar as medidas de mitigação, sob o risco de problemas irreversíveis para o Planeta. Fica, também, cada vez mais evidente que as soluções tecnológicas para a descarbonização dos transportes serão múltiplas e que temos o etanol como uma alternativa importante nesse conjunto de soluções.

A solução do carro elétrico a bateria já deixa de ser vista como a grande e única alternativa, dados os custos econômicos associados às mudanças de infraestrutura e de distribuição da energia, bem como os custos ambientais de produção e descarte das baterias. Híbridos flex e hidrogênio, extraído do próprio etanol a partir da tecnologia de célula a combustível, passam a ser soluções que envolvem o biocombustível e atendem o objetivo maior da descarbonização.

A grande diferença é que os grandes movimentos passam a ocorrer não mais no Ocidente, mas na região da Ásia, hoje seguramente a mais dinâmica do Planeta. De fato, como resultado de uma produtiva parceria entre os governos e os setores privados do Brasil e da Índia, o país asiático decidiu aprovar a mistura de 20% de etanol à gasolina até 2025, além da adoção de veículos flex, que, assim como no Brasil, podem rodar indistintamente com gasolina ou etanol. Outros países asiáticos, como a Tailândia, a Indonésia e Filipinas, também enxergam um forte potencial no biocombustível, e o tema já tem sido objeto de discussões e cooperação com o Brasil.

Nesse sentido, a UNICA, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), tem investido fortemente na promoção de etanol mundo afora, buscando exatamente aproveitar essa nova janela de oportunidade e garantir que o etanol seja efetivamente reconhecido pela sua qualidade e pelos benefícios ambientais e econômicos que gera, fundamentados em argumentos técnico-científicos. A janela abre-se novamente, e esta é a hora de agir… antes que ela volte a se fechar!

Autores: Eduardo Leão é diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e Júlia Tauszig é coordenadora de Relações Institucionais da UNICA.

Fonte: Revista Agroanalysis, da FGV - v. 42 n. 5 (2022)