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Voltar Produção de grãos - Feijão

Cadeia produtiva

A cultura do feijão é importante fonte de energia, com baixo teor de gordura e ingrediente indispensável na cozinha brasileira e nordestina. De produção predominantemente familiar, tem baixa rentabilidade se comparada a outras culturas, limitando maiores investimentos. Não obstante, o feijoeiro Phaseolus vulgaris é uma planta rústica, resistente a estresses hídricos e de ciclo curto de produção (55 a 90 dias). São 14 os tipos de feijão cultivado, sendo mais conhecidos no Brasil o carioca, o preto, o fradinho (o mesmo macassar, caupi ou de corda) e os feijões tipo cores (branco, vermelho, roxo e outros). Adapta-se às diversas condições de clima e solo, podendo ser cultivado isoladamente, em consórcio ou intercalado, em três safras anuais, mas o valor comercial e nutritivo do feijão deprecia-se rapidamente após a colheita, perdendo sua qualidade após dois meses de estocagem.

Na fase de comercialização, a venda do produtor se dá para um intermediário, que a revende para um atacadista, que a empacota e vende ao supermercado. A estocagem exige grande controle, pela alta perecibilidade, necessitando aplicação de inibidores de insetos. A logística de transporte é influenciada pelo gosto do consumidor e pelas três safras, em diferentes regiões e épocas (a primeira no Sul, a segunda no Nordeste e a terceira no Sudeste), exigindo intenso transporte rodoviário do produto, mais oneroso, até chegar aos supermercados, em pacotes, para os consumidores finais.

Um dos entraves na comercialização é a concentração da produção no tipo carioca (40%). Segundo o Instituto Brasileiro do Feijão, o Brasil é o único produtor mundial e o maior consumidor dessa variedade, pouco aceita no exterior pela sua alta deterioração. O problema se agrava com quebra de safra, pois não há variedade alternativa. Se houver excesso de produção, não há exportação e o produto fica escurecendo nos armazéns, perdendo qualidade e onerando custos de carregamento, gerando deságio na venda.

O Nordeste do Brasil, historicamente, tem área maior que a soma das áreas de Sul, Sudeste e Centro-Oeste (1,51 milhão de hectares contra 1,32 milhão), no entanto, a produtividade (442 kg/ha) é de apenas 24% destas, que têm índices de 1.600 kg/ha. a 2.000 kg/ha. A Bahia é o quinto produtor nacional, único estado nordestino entre maiores produtores, sendo destaque na produção de feijão-comum cores primeira safra. Nesta variedade, a estimativa para esse ciclo é de 11 mil hectares semeados a partir do final de abril, uma vez que o manejo é exclusivamente irrigado em pivô central. A área plantada foi de 59,1 mil hectares, visto que até o final de março de 2020 foram colhidos cerca de 25% desse total. Ao todo, a expectativa é que o estado produza 29,1 mil toneladas. Em relação ao feijão-caupi, ainda na Bahia, as lavouras localizadas no extremo-oeste, que foram semeadas em novembro de 2019, já estão totalmente colhidas. Já as lavouras no centro-norte e centro-sul do estado foram semeadas em janeiro e fevereiro de 2020 devido ao atraso na chegada das chuvas e ainda se encontram em fase de enchimento de grãos e maturação, com colheita prevista para início de abril. São esperadas cerca de 59,2 mil toneladas do grão nessa primeira safra. Na Região Nordeste, a projeção é que sejam plantados mais de 690 mil hectares com o feijão-caupi nessa segunda safra. O Ceará é o grande destaque, com plantio de 384,3 mil hectares e uma estimativa de produção na ordem de 108 mil toneladas. Pernambuco também destina uma área expressiva para o cultivo do grão. São mais de 107 mil hectares previstos nesse ciclo, com uma produção que deve chegar a 40,2 mil.

Tabela 1 -  Produção de feijão no Brasil, por regiões e estados selecionados

Fonte: Conab (2020).

Nota: (e) Previsão, em abril de 2020.

Preços

O mercado é influenciado pelo tipo de grão comercializado, clima, fatores agronômicos e sazonalidade. O preço depende do mercado interno, já que exportação e importação são pequenas. A existência de três safras da cultura facilita a mudança na intenção de plantio, pelo produtor, ao longo do ano, podendo influenciar preços.

A situação atual mostra tendência de crescimento, muito embora bem diferente de fevereiro de 2019, devido ao clima e à redução de área, tomada, em parte, pelo milho e pela soja, com melhores preços, impactando negativamente o consumo. O feijão preto, até 2019, tinha oscilações menores pelo fato da sua demanda ser suprida em grande escala por importações argentinas. Antes de março de 2020, os preços subiam em razão da baixa oferta. E com a recente pandemia de Covid-19, que atingiu o Brasil de forma mais generalizada em março, cujos desdobramentos e previsões mudam diariamente, deve haver maior procura por parte da população para estocar alimentos, o que está se refletindo nos preços; não se descartam eventuais problemas na logística de abastecimento, pela restrição na circulação de pessoas e de mercadorias, o que poderá levar a novos aumentos de preço.

Gráfico 1 – Evolução dos preços do feijão, em praças selecionadas, 2019-2020

Fonte: Conab (2020).

Tendência

O momento é atípico devido à pandemia. Houve procura acentuada das famílias naquele primeiro momento, o que elevou os preços, mas o prolongamento da crise se reflete também diretamente no poder de compra do consumidor. O feijão é um produto de primeira necessidade, os preços estão elevados para a situação atual, há de se esperar o que deve ocorrer com a entrada da próxima safra. Em abril, com a entrada da safra, a tendência é de queda dos preços.

Autor: Jackson Dantas Coêlho é Economista, Mestre em Economia Rural, funcionário de carreira do Banco do Nordeste há vinte anos, onde atua como Coordenador de Estudos e Pesquisas (pesquisador) da Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene).

Fonte: Caderno Setorial Etene

Publicado originalmente em 03/07/2020.