Tokenização vai permitir que agricultor use seu produto como moeda, diz especialista
Agroinforma
(Extraído de notícia do site "A Gazeta". A notícia completa pode ser acessada neste link)
A tecnologia está cada vez mais presente nas propriedades rurais, seja ajudando na produtividade do plantio e colheita seja nas escolhas das melhores práticas agrícolas. Mas, além do dia a dia das atividades, a inovação também promete revolucionar o campo no quesito financeiro, com a tokenização.
Esse foi o assunto da palestra que encerrou, nesta quinta-feira (29), as conversas no auditório principal no segundo dia do TecnoAgro 2024, evento promovido pela Rede Gazeta no Steffen Centro de Eventos, na Serra. Anderson Nacaxe, especialista em Inovação Financeira e Blockchain da ABToken, falou sobre como será possível no futuro fazer poupança com qualquer commodity produzida por determinada propriedade e criar também a moeda que seja mais relevante para o agricultor.
O que é token?
Tokenização é o processo de transformar produtos reais, como imóveis, commodities ou qualquer outro tipo de propriedade, em ativos digitais, ou seja, numa representação por meio dos tokens. Estes são armazenados em uma rede chamada blockchain para garantir segurança, autenticidade e rastreabilidade.
O blockchain é como um banco de dados, funciona como um livro de registros, mas acompanhado de um arquivo que garante que as informações não sejam violadas. Isso significa que as transações e os registros feitos na rede não podem ser alterados retroativamente, proporcionando uma maior confiança nas operações realizadas.
No caso do campo, os ativos a serem transformados em tokens são a produção de café, soja, milho e mamão. A metodologia permite também o fracionamento das propriedades, possibilitando acesso a investidores.
A tecnologia permite que agricultores, além de venderem a safra de modo mais simples, possam atestar a qualidade e procedência da produção pela rastreabilidade garantida pelo blockchain. Na prática, funciona assim: os tokens lastreados em commodities representam a quantidade de uma produção agrícola ou parte da propriedade. Assim, o agricultor pode tokenizar sua safra e vender de forma antecipada aos investidores.
Dessa forma, no futuro, Anderson Nacaxe explica que será possível fazer poupança com qualquer commodity, criando a moeda que seja mais relevante para o produtor. Se tem ampla produção de café, por exemplo, ele pode fazer negociações com esses ativos digitais.
Para Anderson, com a tokenização, será possível comprar café e pagar com café. Ele explica que isso vai funcionar como um movimento chamado na economia de anticíclico de inflação. O especialista lembra que, na época da hiperinflação, quando se achava que o preço ia subir, as pessoas recebiam salário e corriam para o supermercado para comprar o máximo possível de produtos. Quanto mais gente consumindo, mais o preço sobe, entrando em um ciclo vicioso, até que seja interrompido.
"Nesse novo ambiente, se eu acho que o preço do etanol ou do café vai subir, vou e compro na origem, diretamente do produtor. Estou mudando o consumo, estimulando a produção e o equilíbrio de novo. Essa tecnologia vem para trazer uma confiança plena no mundo digital. E o futuro dela é justamente poder fazer poupança em qualquer commodity ou em qualquer ativo real. De uma maneira fácil e direta, vamos poder comprar café com café. Eu vou poder comprar picanha com a arroba de boi", afirma.
Outro exemplo é a possibilidade de desenvolver a moeda própria, em torno do seu produto principal. "O fornecedor que aceita token como pagamento já anuncia o preço em soja. E, ao anunciar o preço em soja, tenho uma economia que gira em torno da 'moeda soja'. Uma vez que ele faz essa compra e transfere as carteiras digitais de soja para o fornecedor, o produtor fica com o bem e esse fornecedor que não necessariamente quer a soja como pagamento pode descontar com um provedor de dividendos. Tudo isso para garantir que o produtor possa viver numa economia com a moeda mais relevante para ele", detalha.
Anderson conta que hoje os tokens já são usados e aceitos na compra de equipamentos agrícolas. Na prática, o produtor troca sacas de soja, por exemplo, pelo equipamento que precisa. E quem vendeu o maquinário pode transformar aquele ativo em dinheiro, como se fosse um cheque quando era descontado antigamente. Uma comercialização que, segundo ele, será cada vez mais comum no futuro do agro.
Autora: Leticia Orlandi
Fonte: A Gazeta