Pernambuco

Pernambuco é fruto de uma colonização com seu processo econômico dinamizado pelo Porto do Recife. Por meio dessa ligação direta com o mundo, o estado sempre recebeu e trocou fortes influências culturais dos mais diversos lugares. Contando, também, com a singularidade histórica da ocupação holandesa capitaneada por Maurício de Nassau, Pernambuco tem uma herança de relação com a cultura que se organiza de um jeito muito particular e não seria diferente com sua música.

Berço de importantes linguagens musicais brasileiras como o frevo, o baião, a ciranda e o maracatu entre outros, o estado de Pernambuco se destacou durante o século XX como um importante centro de produção fonográfica referência para o país.

A qualidade e o protagonismo de sua produção musical contrasta com regiões do país que sofrem com um processo neo-colonizador, que as deixam reféns dos olhares e reconhecimento concentrados no eixo Rio-São Paulo, que trata essa musicalidade local como uma música Regional, menos importante que a música produzida nestes centros, sendo estas tidas como uma música nacional.

A ideia de regionalidade, muitas vezes pejorativa e limitadora, aplicada por um complexo pacote de fatores culturais, econômicos sociais e também da indústria fonográfica no Brasil e no mundo, e que reverencia Rio de Janeiro e São Paulo como centralidades da música brasileira e o restante do país como berço de “produções regionais”, segue os mesmos princípios coloniais com os quais o mercado internacional subjuga as expressões culturais provenientes do oriente e do sul global há séculos.

Mesmo com a imposição do “passaporte”, agora atualizado pela Internet como ferramenta de consumo, que induz(ia) as migrações dos sujeitos artistas, como qualquer outro trabalhador, dos mais variados rincões de nosso imenso país para o Sudeste, a percepção dominadora do Capital nunca impediu Luiz Gonzaga de criar um dos segmentos/estilos/linguagem mais aclamados e cultivados em nossa sonoridade (recebendo o título popular de Rei do Baião); ou Moacir Santos e Naná Vasconcelos de se tornarem ícones internacionais, reconhecidos pelo público e pela crítica nos quatro cantos do mundo, sendo o último deles um dos brasileiros mais premiados no Grammy com o total de oito estatuetas.

É importante ressaltar que a preponderância masculina nessa trajetória, foi fruto do silenciamento do protagonismo de muitas mulheres talentosas, excetuando-se, por exemplo, as carreiras de artistas como Marinês e Anastácia que obtiveram reconhecimento como cantoras e compositoras ainda em um quadro muito masculino do forró. Só foi ao final do século XX que começam a se destacar no mercado fonográfico pernambucano nomes como Comadre Florzinha, Flaira Ferro e Dona Selma do Coco.

Na contemporaneidade, a presença de artistas pretos e pretas, periféricos, LGBTs e mulheres deram ao cenário musical pernambucano um panorama mais diverso e plural, artistas da capital e do interior desenham uma rica sonoridade local recheada das macrorregiões e referências tradicionais e contemporâneas montando um dos cenários mais interessantes da música brasileira. 
Do Brega ao pop, passando pelo rock, hip hop e bregafunk, chegando à música instrumental e de cultura popular, Pernambuco é referência para o Brasil e para o mundo de um caldeirão de possibilidades estéticas alinhados às expressões urbanas de vanguarda e conectado com as tradições de matriz africana e indígena.

Fazer uma seleção de músicas fundamentais da música pernambucana é um trabalho complexo e delicado, perpassa por contar uma história que tem mais de um século, pontuar momentos que impactaram o Brasil como o auge do forró, do frevo, do Manguebeat e do Brega funk, e ainda conseguir montar um retrato atual com nomes relevantes em nosso cenário nacional como Amaro Freitas, Johnny Hooker e Lia de Itamaracá.

Esta curadoria entendeu que trazer para os atentos ouvidos interessados em cultura do Nordeste um apanhado atual junto aos clássicos do último século, seria um movimento comprometido de reparação histórica, trazendo para o centro do processo mulheres, LGBTs, pretes e periféricos que ao longo de nossa história construíram essa linda trajetória, mas não tiveram o devido reconhecimento.

Música pernambucana é Universal.

Jéssica Caitano
Patricktor4
Guilherme Patriota

Guilherme Patriota

Jornalista, estudou Cinema Político Latino Americano e Clarinete. Atualmente desenvolve as atividades de Sócio-Produtor Executivo na Theia Produtores Associados, documentarista, roteirista, diretor audiovisual, pesquisador, curador e artista audiovisual. Vencedor do Prêmio Delmiro Gouveia de Economia Criativa 2020, desenvolve atividades artísticas, de produção, pesquisa e curadoria desde 1998 no serviço público e privado. 

Jéssica Caitano

Jéssica Caitano é artista popular da cidade de Triunfo, interior de Pernambuco, Alto Sertão do Pajeú, cantora, compositora, poeta-declamadora, arte-educadora, coquista, repentista, rapper e produtora cultural, atua na Fundação Cultural Ambrosino Martins, nos projetos Radiola Serra Alta, Surra de Rima, A Cristaleira, Reboco e Cambindas de Triunfo, integra o Coletivo Mangaio, Coletivo Pantim e RIPA (Rede Interiorana de Produtores, Técnicos e Artistas de Pernambuco).  

Patrickor4

Baiano radicado em Recife, Patricktor4 é hoje um dos principais DJs e produtores do nordeste brasileiro. Trabalha com música contemporânea, buscando entender as sutilezas que criam o irresistível sonoridade pop tropical e a uma música eletrônica com os distintos sabores do Brasil. Patrick já excursionou por todo o país e pelo mundo - tocando em festivais na Europa, Américas, Ásia e África. Das copas do mundo aos clubes suados e - claro - aos jogos olímpicos, trazendo a diversidade pop tropical e seus próprios remixes e composições para este mix de grandes eventos.  Como radialista coordenou três emissoras públicas em Sergipe, no Pará e em Pernambuco, nos últimos 10 anos esteve à frente da Frei Caneca FM, emissora pública do Recife.