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Voltar Agroindústria: Açúcar

(Extraído de artigo do Caderno Setorial ETENE. O Artigo completo pode ser acessado neste link

1 Mercado Global

De acordo com dados do USDA (2023), a produção mundial de açúcar na safra 2022/23 foi de 177,3 milhões de toneladas; para a safra 2023/24, é esperado um crescimento de 6%, podendo chegar a 187,9 milhões de toneladas, como resultado do incremento da produção; principalmente no Brasil, Índia e China. Entretanto, o aumento do consumo mundial (2,3%) deverá contribuir para que os estoques continuem caindo (-15,2%); as maiores reduções nos estoques devem ocorrer na Índia e na Tailândia devido ao maior volume das exportações.

2 Brasil

Na safra 2022/23, as condições climáticas favoreceram a recuperação do rendimento agrícola nas principais regiões produtoras do País, que compensou a menor área, resultando em crescimento de 4,3% na produção nacional de cana-de-açúcar.

Para a safra 2023/24, é esperada expansão e renovação da área, o que implica melhor produtividade; as condições climáticas, até o momento, também estão favoráveis ao desenvolvimento da cultura; assim, a primeira estimativa da Conab para a safra 2023/24 aponta para um aumento da produção nacional de cana-de-açúcar em 4,4%.

3 Nordeste

A área colhida com cana-de-açúcar no Nordeste apresentou pouca variação na última safra, com aumento de 2,9%; para a safra 2023/24, mesmo diante das boas perspectivas de mercado para o açúcar e etanol, a Conab (2023a) aponta uma recuperação de área de apenas 2,5%, que se deve principalmente a investimento na recuperação de áreas; entretanto, a produtividade pode cair um pouco (-3,1%); assim, a produção de cana na Região deverá ser 0,7% menor que a obtida na safra anterior.

Alagoas, Pernambuco e Paraíba possuem as maiores áreas plantadas com cana-de-açúcar na Região e, portanto, os maiores volumes de produção. Entretanto, a Bahia com apenas 7,4% da área, deverá ser responsável por quase 10% da produção regional de cana na safra 2023/24; isso se deve ao uso de variedades de elevada produtividade e de irrigação no Semiárido, onde se localiza 30% da área com a cultura no Estado; além disso, nas áreas de sequeiro são usadas variedade tolerantes à seca que também possuem bom rendimento agrícola (Conab, 2022). Vale ressaltar ainda a contínua melhoria da produtividade no Maranhão que deverá chegar a 76,9 toneladas por hectare na safra 2023/24, o que também se deve ao emprego de tecnologia, em especial a irrigação.

Apesar do ótimo desempenho da Bahia e do Maranhão, a produtividade de cana-de-açúcar nordestina continua sendo a menor do País, pois as condições de clima e de solo são menos favoráveis comparadas ao Centro-Oeste e ao Sudeste, além do baixo emprego de técnicas mais avançadas de cultivo nas áreas tradicionalmente produtoras. Para solucionar este entrave, é necessário investimento em tratos culturais e tecnologia.

Na última safra, apenas o Maranhão e a Bahia apresentaram queda da produção; as boas condições de mercado para o açúcar e a maior disponibilidade de cana-de-açúcar levaram ao maior direcionamento da matéria-prima para fabricação do adoçante. Para a próxima safra, a estimativa é de que a produção de açúcar no Nordeste continue em crescimento, com destaque para o Rio Grande do Norte (10,9%) e Bahia (71,4%); assim, a produção regional de açúcar deverá fechar em 3,5 milhões de toneladas. Paraíba e Sergipe, por possuírem um perfil de produção mais alcooleiro, devem continuar apostando no etanol, daí a redução prevista na fabricação de açúcar nesses estados.

4 Mercado

Entre 2020 e 2022, as exportações brasileiras de açúcar foram crescentes, resultado de uma conjunção de fatores, dentre os quais: baixos estoques mundiais de açúcar, melhora do preço internacional do adoçante, desvalorização do Real frente ao Dólar, e o fim da política de salvaguarda adotada pela China desde 2017 para proteger sua indústria açucareira. Para 2023, as condições de mercado permaneceram favoráveis, com estoques mundiais em baixa e expectativa de menor oferta de açúcar pelos países asiáticos diante da política indiana de aumentar o percentual de mistura de etanol na gasolina, e da elevada probabilidade do El Niño, pois o fenômeno provoca seca na Ásia podendo resultar em queda da produção de açúcar na Índia e Tailândia que são dois grandes players mundiais.

5 Postos de Trabalho

Com relação à geração de postos de trabalho, observa-se, no Brasil, tendência de redução de empregos no cultivo de cana e crescimento na indústria, consequência do avanço da mecanização na lavoura. O Nordeste não parece seguir esta tendência pois as condições do relevo dificultam a mecanização em muitas regiões produtoras; na safra 2022/23, apenas 26% da colheita no Nordeste foi mecanizada contra 98,6% no Centro-Sul, além disso, muitas empresas possuem baixa capacidade de modernização. De acordo com dados do MTE/Rais (2023), entre 2020 e 2021, o número de empregos formais na fabricação de açúcar e etanol no Nordeste caiu 3,1%, enquanto no cultivo de cana-de-açúcar houve um crescimento de 15,8%, o que corresponde a um acréscimo de 3.821 postos de trabalho. Aproximadamente 80% dos empregos formais gerados pelo setor no Nordeste são na fabricação de açúcar e etanol, já no cultivo de cana-de-açúcar, predomina a utilização de mão de obra temporária. Na safra 2022/23, a área com cana-de-açúcar no Nordeste caiu, portanto, o número de postos de trabalho formais no cultivo de cana em 2022 não deve ter sido ampliado. As perdas de postos de trabalho na indústria entre 2020 e 2021 na Região foram concentradas em Alagoas (-6.600) e Maranhão (-872), mas foram parcialmente compensadas pelos demais estados, com destaque para Pernambuco com 1.642 postos de trabalho a mais, Bahia com 777 e Paraíba com 986. Com o aumento da produção de açúcar na safra 2022/23 em relação à safra 2021/22 (21,4%), é provável que o número de postos de trabalho na indústria tenha se ampliado, porém, para a safra 2023/24, é esperado pequeno crescimento da produção de açúcar no Nordeste (2,8%), portanto o número de postos de trabalho nessa safra não deve aumentar.

Autor: VIDAL, Maria de Fátima.

Fonte: Caderno Setorial Etene